textos sobre a não violência em tempo de guerra: Tomar posição

textos sobre a não violência em tempo de guerra

sexta-feira, setembro 01, 2006

 

Tomar posição

Em 1981 levei ao DRM de Lisboa, na Av. de Berna, a minha declaração de objector de consciência ao serviço militar obrigatório. Acompanhava-a uma minuta e um texto que redigi e a que chamei Paz Violenta. nesse pequeno opúsculo defendia a ideia de que queria assumir a minha violência e trabalhá-la em favor da comunidade e não da destruição do meu semelhante. Vinte e cinco anos depois o mundo onde vivo está em guerra e eu tenho novamente de tomar posição. Num cenário de acrescida dificuldade. A retórica belicista toma conta de todos os espaços livres. O terrorismo, a guerra ao terrorismo militarizou a nossa vida quotidiana. Qualquer um de nós com o seu telemóvel ou o seu gel de barba transporta um potencial armamento desta singular guerra. A maneira como falamos, como pensamos, como respiramos, tudo isso é afectado por esta deriva militarista que é também uma suspensão do pensamento. Em situação de conflito aberto parece que só há lugar para os trabalhos da guerra. Foi por isso que a seguir ao 11 de Setembro alguns ideólogos convencionaram chamar às iniciativas antiterroristas, guerra contra o terrorismo. Eles sabiam que estavam a criar condições para afogar o pensamento crítico. A única inteligência que a situação de guerra permite é a estratégia e esta, é exercida por militares, estrategas autorizados e comentaristas reconhecidos na arte da propaganda. O conceito, para além de constituir o eixo bom e o eixo mau tem também uma grande utilidade: arruma os criticos não alinhados nas hordas dos pacifistas, a saber: pacifistas alinhados, falsos pacifistas e pacifistas utópicos (como se a única utopia não autorizada não devesse ser a de pensar que se pode fazer a guerra para viver em paz).
Esta ideia de que diante dos trabalhos da guerra todo o pensamento critico se deve suspender, é já uma estratégia dos próprio afâ guerreiro. Não lhe deveremos dar tréguas. Como escreveu Rui Tavares, esta retórica trata-nos a todos como se fossemos crianças de quatro anos.

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